O governo chinês vai entrar na empresa e salvar o dia ou vai deixar o “pau comer”? Eu não tenho as respostas. Mas, mais importante do que as responder, é entender o que você tem com isso
Por Jojo Wachsmann, sócio-fundador e CIO da Vitreo
Você já ouviu falar da expressão “Too Big to Fail”? Grande demais para fracassar, na tradução direta, ou falir, na tradução ajustada ao mercado.
A expressão parece ter sido cunhada pelo congressista americano Stewart McKinney, em 1984, durante as discussões sobre a quebra do banco Continental Illinois. Com certeza não foi lá que eu ouvi isso, pois só tinha 10 anos na época.
Em 2008, o termo virou moda com as discussões sobre a ajuda ou não que o governo americano deveria dar à Lehman Brothers e às demais empresas dragadas pelo buraco negro da crise financeira global.
Esta semana o termo voltou a assombrar os mercados globais, que têm testado nervos e estômagos dos investidores (meus e seus, inclusive), em meio à crise da gigante Evergrande, a segunda maior incorporadora imobiliária da China.
Os nomes “Continental”, “Grande”, deveriam ser um prenúncio de que “se essas empresas são grandes demais para fracassar, elas são grandes demais”, como disse Alan Greenspan, o icônico presidente do Fed, o banco central americano, entre 1987 e 2006.
Se você quer conhecer mais sobre a Evergrande, eu recomendo o texto do Ricardo Gozzi, do Seu Dinheiro (Clique aqui).
Ele conta, de forma leve, como Xu Jiayin, outrora o homem mais rico da China, construiu esse império em 25 anos, expandindo seus negócios no mercado imobiliário, saúde, mídia, carros elétricos, bancos, seguros e até futebol (Robinho, Paulinho e Felipão passaram por lá).
Para conseguir isso tudo, a empresa se endividou muito (mais de US$ 300 bilhões!), sem que a geração de caixa dos negócios acompanhasse o ritmo. Mas isso só virou um problema de fato quando o governo chinês começou a intervir no mercado imobiliário, apertando as condições monetárias do setor para coibir a especulação imobiliária, na China. Casas são feitas para morar, não para especular!
Na semana passada, a piora das condições de liquidez das incorporadoras chinesas, em meio à desaceleração nas vendas de imóveis, levou as agências chinesas de avaliação de risco de crédito a rebaixarem os ratings da Evergrande e de outras empresas do setor.
Imagine, então, como a semana começou agitada. Para ajudar, ainda tivemos feriados na China na segunda e terça-feira, por conta do Festival da Lua.
Já na segunda-feira a Evergrande deixou de pagar empréstimos bancários. Hoje (quinta-feira), a empresa teria pagamento de juros dos seus títulos de dívida, que negociam a preços que já refletem quebra e renegociação (entre 22 e 26 sobre 100).
Aparentemente, algum acordo foi feito com os credores fora da câmara de compensação dos títulos, com alguma ajuda do governo chinês, que, entre outra medidas, injetou US$ 18,6 bilhões no sistema bancário para acalmar os mercados.
E então, a “SempreGrande” é “Too Big to Fail”?
Vai quebrar ou não? O governo chinês vai entrar na empresa e salvar o dia ou vai deixar o “pau comer”?
Eu não tenho as respostas. Mas, mais importante do que as responder, é entender o que você tem com isso. Porque eu estou escrevendo um Diário de Bordo sobre isso e como isso afeta os seus investimentos.
A maioria do mercado aposta (ou será mais honesto dizer “torce”?) que o governo chinês optará por uma quebra “assistida”, na qual os clientes são protegidos, as obras em andamento transferidas para outras construtoras e o sistema financeiro chinês aguente o tranco (cerca de 40% da dívida da empresa é no mercado doméstico, pulverizada em mais de 200 bancos e instituições não financeiras).
O problema é que mesmo que esse final (menos infeliz) ocorra, as consequências são intensas. A China é muito grande e relevante para o mercado financeiro global, que anda muito sensível.
Nos EUA, a preocupação é com a alta da inflação e a iminente diminuição dos estímulos monetários (tapering) pelo Banco Central enquanto os investidores mostram-se cada vez menos confortáveis com os altos preços das ações. Ontem o Fed indicou que o tapering deve começar em novembro e encerrar as compras de ativos em meados de 2022.
No Brasil, flecha de tudo que é lado. China responde por 1/3 das nossas exportações. Minério de ferro, que já vinha em queda, caiu mais. Enquanto o Banco Central subiu juros ontem para 6,25%, tentando conter uma inflação que ameaça beliscar os 10% no ano. Enquanto isso, os analistas revisam para baixo o PIB do ano que vem (algum mais pessimistas já falam em zero para 2022) e o nosso presidente leva nossa discussão política para as ruas de Nova Iorque.
Se quiser se aprofundar em Brasil, ouça o episódio #36 do RadioCash desta semana com o Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. Ele é um dos economistas que não está nada otimista com o rumo que nosso país está tomando. Falamos sobre tudo isso nesse episódio do podcast, inclusive sobre câmbio, expectativa para Selic para o fim deste ano, crise hídrica e cenário político.
Este mês, até ontem (22), o Ibovespa caiu 5,47% (chegou perto dos 107.520 pontos), o S&P500 caiu 2,81% (chegou a cair 3,73%), a Evergrande caiu 48,29%, a Vale caiu 11,72% (chegou a cair 15,72%) e o Dólar subiu 2,65% (chegou perto de 5,33).
E agora?
A melhor coisa que eu posso fazer agora é pedir que você tenha paciência e realmente respire fundo antes de olhar para os seus investimentos.
Claro que os resultados estão ruins. Com algumas poucas exceções, está tudo feio este mês e nos últimos meses.
Mas olhando as condições do mercado, a queda recente da Bolsa, a alta dos juros longos parece estar distorcida em comparação com os fundamentos dos ativos.
Ou seja, se você aguentar, não é hora de vender.
Mas… e se você não aguentar?
“Se você não aguentar”, provavelmente é um sinal de que pegou um pedaço muito grande (quero dizer, investiu mais do que deveria em ativos de risco) ou estava com a expectativa distorcida em relação ao que poderia acontecer com os seus investimentos (normalmente a gente pensa nos cenários bons e ignora os ruins).
Agora, se você está aguentando e tem espaço e liquidez na sua carteira, pode pensar em aproveitar algumas oportunidades que estão aparecendo.
Não é conversa de vendedor. Estou no meu papel de ajudar você a atravessar este período mais complicado. Estamos numa maratona e não em uma corrida de 100 metros.
Para não dizer que tudo está indo mal, como compartilhei no meu perfil Instagram esta semana (se você não me segue ainda, é @jojowachsmann), o urânio está ganhando os holofotes.
Falei bastante da China mais em cima, e aqui ela entra também no enredo. Sim, a China e outros países grandes têm como base da matriz energética o urânio. Isso fez aumentar a demanda, o que nos faz acreditar que podemos esperar um rally pela frente, com possíveis valorizações. Mas claro, nenhum retorno é garantido. Se quiser saber um pouquinho mais sobre a tese, você pode clicar aqui.
E para terminar, se você gosta de ações, quero convidá-lo a conhecer um lançamento novo que tivemos na Vitreo, esta semana. No evento Operação Trading 3.0 apresentamos nossas novas salas de trading com especialistas. Para você ter uma ideia, a turma começou com o pé direito. No primeiro dia de funcionamento (terça 21) foram 7 trades e 7 acertos, ou seja, 100%.
Aqui na Vitreo estamos realmente empenhados em proporcionar a melhor plataforma de renda variável do mercado, com tudo que atenda às necessidades dos investidores. O que fizemos esta semana foi apenas um primeiro passo para tudo o que ainda virá pela frente. Para as próximas semanas ainda teremos muitas novidades.
Ah, por último mesmo, se você estava sentindo falta de um aplicativo que consolidasse toda a sua carteira da Vitreo, agora esse não é mais um problema.
Desde terça-feira seus investimentos em fundos já podem ser importados para o aplicativo de consolidação de investimentos Real Valor.
Isso irá facilitar muito a visualização e monitoramento da sua carteira, em conjunto com o que já oferecemos em nosso aplicativo e site.
Me despeço relembrando-lhe: no mercado costumamos dizer que quando a “Bolsa está sangrando” esse pode ser um bom momento para oportunidades.
Como disse meu amigo Felipe Miranda em seu livro “Princípios do Estrategista”: Investidores vencedores focam no longo prazo. A tendência é que o mercado suba, mas sabemos que isso não ocorre de forma linear. Há momentos de altos e baixos e muita volatilidade. Acontece. Siga com o foco no longo prazo.
Eu estou aqui para atravessar este período com você.
Leia o Diário de Bordo na íntegra: clique aqui.