O recente aumento dos preços resulta de um choque de oferta que parece momentâneo, não estrutural
Por William Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities
Começamos junho como encerramos maio: falando de inflação e seus impactos no mercado. O ponto central para o investidor, me parece, continua o mesmo: a melhor forma de ganhar dinheiro com a inflação é simplesmente ignorando-a. Veja que a despeito de todos os receios, as bolsas americanas encerraram a semana próximo das máximas – me refiro ao S&P e Dow Jones (vide gráfico abaixo). O Nasdaq (gráfico à direita), mais influenciado pelas empresas de tecnologia, tem tido um desempenho inferior.


INFLAÇÃO
Muito se fala do retorno da inflação “À La Década de 70”. Confesso que nesse sentido tenho mais dúvidas do que certezas. De fato, temos visto preços mais altos pelo mundo inteiro. Os alimentos, por exemplo, foram para o valor mais alto em quase uma década. Um indicador das Nações Unidas sobre os custos mundiais dos alimentos subiu, em maio, pelo 12º mês consecutivo, período mais longo em uma década – vide gráfico e tabela com as variações.
Esse foi só um exemplo. Temos diversos produtos “percebendo” isso. De fato, a inflação está aí e não há como negá-la.
Mas, então, por que você diz que, como investidores, devemos ignorá-la?
(i) Porque a inflação recente resulta de um choque de oferta que parece momentâneo, não estrutural. O mundo parou e grande parte dele ainda enfrenta dificuldades para reabrir. Logo, temos disrupções na cadeia produtiva. Estas levam a atrasos na entrega de produtos (vide gráfico abaixo) e aumento de preços, momentaneamente. Afetado, o supply chain demanda certo tempo para ser reestabelecido.
A disrupção atual na cadeia produtiva lembra outros choques de oferta do passado, como o do petróleo de 1973 – vide gráfico abaixo.
Ou, ainda, o pós-Segunda Guerra Mundial – vide gráfico abaixo. À medida que as cadeias de suprimentos e a vida como um todo voltam à normalidade, a inflação cede e volta aos patamares mais “normais”.
(ii) Expectativas ancoradas. Em se tratando de mercado financeiro e precificação de ativos, é sempre fundamental entender o papel das expectativas, pois elas são colocadas nos preços diariamente. Nesse sentido, a meu ver, temos mais um motivo para ignorar a inflação. Ao menos até agora, o mercado não a vê como insustentável ou descontrolada. Muito pelo contrário. O gráfico abaixo mostra que temos um “spike” nas expectativas de curto prazo (next year), mas que tende a arrefecer diante da expectativa de uma inflação bem-comportada nos próximos cinco anos.
Fora isso, ressalto que a inflação que vemos é resultado de uma economia que se reabre e cresce, o que é positivo para investimentos. Afinal, queremos investir em empresas que consigam crescer, ver seus lucros expandindo, e que isso se reflita no desempenho de suas ações. Nesse sentido, já comentei aqui que a safra de balanços foi muito forte e as empresas tiveram lucros que surpreenderam a todos.
Não obstante, a bateria de indicadores da economia americana que tivemos nesta semana somente corrobora a tese de uma recuperação forte em curso. Tivemos o PMI da indústria e serviços acima do esperado; uma geração de empregos do setor privado que veio bem acima do esperado; e um relatório de emprego (payroll) que mostrou uma taxa de desemprego menor que a esperada.
Então, foque naquilo que realmente importa.
FALANDO EM ALGO QUE IMPORTA…
Algo fundamental para quem investe no exterior é o câmbio. O atual cenário, de volatilidade em baixa e preços de commodities nas máximas, tem sido excepcional para os mercados emergentes e em especial para o Brasil. O otimismo tem se traduzido na moeda, com a queda recente do dólar – das máximas ao patamar de agora já são quase 13% de queda, saindo de R$ 5,87, há cerca de 3 meses, para R$ 5,07.
Alguns headlines de sites de mercado são muito positivos e falam em dólar abaixo dos R$ 5,00, o que poderia fazer o leitor preferir esperar para “pegar” um dólar mais barato. Penso que nunca sabemos o dia de amanhã, e, como já comentei aqui, acredito que, para o investidor que quer começar a se expor ao mercado internacional, abre-se uma janela de oportunidade.
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Até semana que vem.
William Castro Alves