As perspectivas para o PIB desse ano não estão muito boas. Os dados correntes vêm, com raras exceções, decepcionando, e as expectativas de consenso do relatório Focus do BC estão em queda quase contínua nos últimos meses, atingindo uma mediana de 0,36% na última sexta feira. Dentre os participantes mais pessimistas é comum termos encontrarmos quem advogue por números próximos a -1% de crescimento. O caso para um crescimento tão baixo parece passar pela mudança de postura da política monetária (ano passado nessa mesma época a Selic era de 2%…), os dados correntes já ditos fracos, e o medo dos efeitos nocivos da inflação na demanda.
Todos esses pontos são razoáveis, e de fato o PIB de 2022 parece que será fraco. O mais difícil é precisar “quão fraco”. Isso porque ainda que esses fatores baixistas sejam verdadeiros, temos também alguns fatores “altistas” importantes. Destaco dois por aqui: a expansão fiscal causada pela introdução do Renda Brasil (comparada ao resultado esperado antes desse anúncio) e a perspectiva de recuperação de algumas cadeias de produção importantes (ex: automotiva) que estiveram travadas ao longo de 2021.
Hoje considero ser especialmente desafiador fazer uma boa projeção de PIB porque esses fatores “altistas” são de difíceis mensuração. A recuperação das cadeias de produção é uma incógnita que fica totalmente fora dos modelos econométricos convencionais. Já a introdução do Renda Brasil é de difícil mensuração por conta do tamanho do choque que estamos dando nas rendas de assistência básica. De fato, se entendermos o novo programa como uma continuação do Bolsa Família, o crescimento real que veremos nessa rubrica em 2022 é absolutamente “fora da curva” comparado com anos anteriores, e modelos lineares não devem fazer um bom papel para prever o efeito dessa variável no crescimento. Se entendermos o Renda Brasil como um “novo auxílio emergencial” a coisa fica pior: temos poucas observações de “auxílio emergencial” na série histórica, e a correlação dele com atividade econômica é negativa (o período de auxílio foi o período de Covid, que derrubou a atividade…) ainda que é consenso acreditar que a causalidade seja positiva.


De fato, dentro da Alphatree recentemente fizemos um exercício tentando entender possíveis limites da atividade econômica nesse ano. Em um extremo, retiramos todos os efeitos de Bolsa Família de todos os nossos modelos de projeção, bem como qualquer hipótese de volta de cadeias produtivas. O resultado nos apontava para uma queda de 1,7% no PIB desse ano. Para o outro extremo, assumimos o Renda Brasil como uma continuação do Bolsa Família e acreditamos nos modelos lineares, além de introduzir uma hipótese de volta de cadeias de produção (equivalente a um aumento de 2p.p. no crescimento da produção industrial). Nesse caso nosso PIB chegaria a um crescimento de 1,5%. Apontar um número específico entre esses extremos (reconhecidamente largos) parece difícil atualmente, ainda que os dados do primeiro trimestre devem diminuir bem a incerteza. Dito isso, acreditar em um PIB próximo do estável hoje me parece razoável ainda que seja um caso de média pouco informativa.