Na próxima semana teremos de fato o pontapé inicial da safra de balanços. Entendo que os investidores fiquem muito preocupados com as notícias macroeconômicas ou com as diferentes coisas que afetam o mundo hoje. No entanto, também é muito importante prestar atenção nos resultados trimestrais das empresas. Penso inclusive que esse pode ser um trigger para movimentações mais bruscas no mercado, especialmente no tradicionalmente volátil outubro.
AGENDA
Vale começar situando o leitor acerca do que esperamos para essa semana em termos de resultados trimestrais. Na quarta-feira (13) o JP Morgan (maior banco dos EUA em valor de mercado) divulgará seus números; junto a ele teremos a Delta Airline (segunda maior empresa aérea dos EUA) e a Blackrock (maior gestora de recursos do mundo). Na quinta-feira (14) será a vez do mercado descobrir os números do Bank of America, Citigroup, Wells Fargo, Morgan Stanley, US Bancorp, além da UnitedHealth (maior empresa de saúde do mundo) e das farmácias WalgreenBoots. Para encerrar a semana temos Goldman Sachs, General Eletric, VFC (dona das marcas Timberland, North Face, Vans entre outras) e Prologis (maior fundo imobiliário de galpões do mundo).
O calendário resume o que veremos nos próximos 30 dias:
E AS EXPECTATIVAS?
De forma agregada, as empresas devem seguir reportando números bem fortes na comparação anual – vale lembrar que a base ainda é fraca (junho a agosto de 2020, mas com desaceleração frente ao segundo trimestre que marcou o pico da atividade aqui nos EUA. O mercado hoje trabalha com uma expectativa de crescimento de lucros de +26% e de receitas de +13% para as empresas do S&P 500. Para as small caps (empresas do S&P 600 com menos de 4BI de capitalização de mercado), a inflexão esperada é maior, com lucros crescendo 43% e receitas 16%.
Em se tratando de resultados, o que importa para o curto prazo é tamanho das surpresas e o guidance das empresas. O mercado vai olhar com muito cuidado para o impacto nos resultados das crescentes pressões de custo em meio a interrupções na cadeia de suprimentos e escassez de mão de obra/material, uma vez que isso pressiona as margens.
E OS BANCÕES
Falando especificamente dos bancões (bancos de maior valor de mercado) que abrem a safra na semana que vem: eles devem reportar um crescimento de lucro bem mais moderado, uma vez que grande parte das reversões de provisões já foram contabilizadas nos últimos trimestres – fonte. Em relação aos bancos o foco deve recair nas recompras de ações e nos dividendos. Além disso, as divisões de banco de investimento devem entregar ganhos elevados graças a um aumento nas operações de aquisições e IPOs; tivemos também fortes volumes de negociações de ações que ajudam nas mesas de ações e derivativos; e por fim, o mercado vai observar se houve aumento nos empréstimos comerciais e industriais – havia desacelerado no último trimestre, e eles funcionam como proxy para recuperação econômica.
ENQUANTO ISSO, NA ECONOMIA…
Fora os resultados, cabe aqui falarmos um pouco do relatório de emprego que saiu na sexta-feira e decepcionou o mercado. Esperavam-se que fossem criados 500 mil postos de trabalho em setembro, quando na verdade o número foi de apenas 194 mil – vide gráfico.
O que explica tamanha divergência? Uma redução no volume de mão de obra de serviços ligados ao governo. Algo que o mercado interpretou como positivo, ou seja, o dado mais fraco não foi oriundo de um setor privado mais fraco. O número anunciado foi prejudicado por uma queda de 123 mil postos de trabalho do governo, enquanto o setor privado criou 317 mil vagas. A abertura do dado mostrou uma geração de empregos relevante em setores importantes como Turismo, Serviços, Transportes. Não obstante, ao longo da semana tivemos o dado de pedidos de auxílio-desemprego e ADP que surpreenderam positivamente o mercado. Por fim, apesar da menor criação de empregos, a taxa de desemprego americana seguiu caindo.
Apesar do número fraco a leitura foi positiva e inclusive ajudou os mercados americanos a encerrarem a semana no território positivo.
POR ÚLTIMO, MAS NÃO MENOS IMPORTANTE…
Um comentário sobre o dólar, que atingiu máxima desde abril encerrando a semana acima dos R$ 5,50. Essa semana tivemos o dado de inflação no Brasil medido pelo IPCA. O gráfico abaixo mostra a evolução e o distanciamento desta para a meta do Banco Central.
Uma inflação de dois dígitos certamente preocupa. Tenho falado que a inflação que percebemos aqui nos EUA é exportada para o mundo através dos produtos e serviços importados. Numa economia globalizada, mais e mais esses encadeamentos se fazem presentes. Dado que seguimos vendo a persistência dessa inflação aqui nos EUA, talvez a tese de arrefecimento da inflação no Brasil não se materialize. E como um dos determinantes de taxas de câmbio entre dois países se dá pelo diferencial de inflação entre eles, fica difícil ver por que o dólar iria se desvalorizar frente ao Real. Em outras palavras, o que estou dizendo é que: enquanto a inflação no Brasil estiver mais alta do que nos EUA, em tese, deveríamos ver a moeda americana se valorizar (dólar ficar mais caro). Obviamente que existem outros fatores que podem contrabalancear isso – superávits na balança comercial, aumento de juros no Brasil etc.
Ainda assim, deve fazer você pensar: esperar o dólar se desvalorizar para começar a investir nos EUA é uma tolice.
Era isso pessoal…nos sigam nas redes sociais @willcastroalves no Twitter ou Instagram.
Aquele abraço!!!
WILLIAM CASTRO ALVES