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William Castro Alves: A melhor forma de investir no Brasil

O “gringo” não aloca no Brasil parcela relevante do seu capital. Por que, então, o brasileiro deveria fazê-lo?

O “gringo” não aloca no Brasil parcela relevante do seu capital. Por que, então, o brasileiro deveria fazê-lo?

Por William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities

A BOCA DE JACARÉ QUE ABRIU MAIS

Nesta semana, diversos assuntos permearam a cena de investimentos: Afeganistão, o resultado das empresas de varejo aqui nos EUA, o tal “tapering” do FED podendo começar muito em breve, entre outros. Mas para nós brasileiros não tem como não falar da cena local de investimentos.

Aquela “boca de jacaré”, a que fiz referência na semana passada, abriu ainda mais – no gráfico: cenário de investimentos nos EUA (linha preta) versus mercados emergentes (linha vermelha) e Brasil (linha verde). O mercado americano acumula alta de quase 20% no ano.

O QUE EXPLICA ISSO?

Muitos de vocês podem imaginar que a fraca performance da Bolsa brasileira se deva aos problemas e incertezas políticas de Brasília. De fato, incertezas são sempre precificadas no mercado para baixo (”na dúvida, venda”). Temos uma situação fiscal nada boa, com um governo com uma popularidade caindo e à beira de uma eleição. Isso certamente não ajuda.

Mas veja que os mercados emergentes em geral também não vêm performando bem; logo, a fraca performance não é exclusividade do Brasil – é realidade na China, Turquia, Indonésia, entre outros.

Então penso que temos dois fatores que ajudam a explicar e que vão além dos vetores tradicionais das inconsistências macroeconômicas e políticas dos emergentes.

Fator 1: as commodities.

Depois de um começo de ano em forte recuperação, diversas commodities passaram por fortes realizações (quedas de preços), em especial commodities metálicas e o petróleo – vide gráfico abaixo. Isso se deve à desaceleração da economia chinesa e da americana – em que os últimos dados têm surpreendido pela ponta negativa.

E basta olhar um gráfico de mais longo prazo para ver que os mercados emergentes (linha vermelha) guardam uma correlação muito forte com os preços das commodities (linha azul) – vide gráfico abaixo. Em outras palavras, podemos dizer que os preços das commodities, intrinsicamente cíclicos e voláteis, influenciam, e muito, o desempenho dos mercados emergentes.

Fator 2: tem sido assim há tempos.

Dominic Toretto nos ensinou no filme “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio”.

Brincadeiras à parte, o gráfico abaixo compara a performance de mercados emergentes com a de mercados desenvolvidos. Esta diferença, que agora vemos de forma mais clara, existe há algum tempo. Pelo menos desde 2012, os mercados emergentes vêm apresentando uma performance mais fraca vis a vis os desenvolvidos.

grafico 4 will
Fonte.

Nosso estrategista Guilherme Zanin fez uma bela análise sobre isso, nos trazendo algumas vertentes de pensamento econômico.

Os emergentes estão defasados? Sim! Mas vão convergir? Apenas se você acredita que vamos ter o mesmo arcabouço institucional que as grandes nações. Isso, em economia, se chama teoria de crescimento endógeno de Paul Romer’s, segundo a qual países desenvolvidos tendem a manter ou até aumentar a vantagem competitiva. Essa teoria fica em oposição ao modelo de Solow de convergência das nações pobres contra as nações mais ricas.

Fonte.

MAS, AFINAL, O BRASIL ESTÁ BARATO, OU O BRASIL É BARATO?

Respondendo objetivamente: sim e sim.

Não gosto das comparações entre o mercado brasileiro e o americano ou de países desenvolvidos, porque sempre formos “descontados”. Então acaba que estarmos “mais baratos” frente ao mercado americano não nos diz muito. O maior risco de investimento no Brasil faz com que, historicamente, a bolsa brasileira negocie com grande desconto ao mercado americano.

Agora, depois das quedas recentes, o mercado brasileiro parece barato quando analisamos diferentes métricas. Uma delas é bem simples, intuitiva e muito usada. A relação preço/lucro da bolsa brasileira (linha azul) atinge mínimas, quando analisado um gráfico de longo prazo. Ademais, quando comparado mesmo a emergentes (linha cinza), o Brasil apresenta um múltiplo menor (mais barato) que o de outros mercados.

Não é à toa que o JP Morgan lançou um report nesta semana intitulado: “Estratégia de ações para o Brasil: teste de estresse, oportunidade de compra”.

DUAS COISAS SUPER IMPORTANTES SOBRE INVESTIR NO BRASIL

  • Alocação.

Tradicionalmente, o “gringo” (investidor estrangeiro) vê o investimento no mercado brasileiro como “tático”, “uma alocação de curto prazo, especulativa”, que visa aproveitar uma assimetria temporária. O Brasil, assim como outros emergentes, não é visto como um porto seguro a investimentos de maior porte (maior parcela de alocação do capital).

O que estou querendo dizer com isso é que, mesmo estando interessante aproveitar eventuais oportunidades no Brasil, normalmente a alocação destinada ao país é pequena, considerando a carteira total de investimento. Diferente do brasileiro, o “gringo” não aloca no Brasil parcela relevante do seu capital. Por que, então, o brasileiro deveria fazê-lo?

Talvez seja hora de você repensar sua carteira total de investimentos, direcionando, sim, parte ao Brasil, mas que essa “parte” não seja a mais relevante no seu portfólio.

  • Qual é a melhor forma de investir no Brasil?

A melhor forma de se aproveitar de oportunidades no Brasil é justamente por meio do mercado americano!

Como assim?

Existem mais de 80 empresas brasileiras que possuem ações ou ADRs negociadas no mercado americano (lista completa); além de alguns ETF’s (lista completa) que permitem exposição ao mercado brasileiro. A vantagem de investir no Brasil por meio do mercado americano é a da moeda, dado que aqui você investe em dólares.

E por que isso é importante?

Supondo que essa tese de investimento no Brasil “não dê certo” … Supondo que as coisas piorem no Brasil e a percepção de risco se eleve mais (bata na madeira 3x), qual seria o impacto mais óbvio? O de uma valorização do Dólar frente ao Real. Ou seja, é como se você tivesse o que chamamos de hedge (proteção) a um cenário inverso ao da posição assumida na sua carteira.

Pense a respeito.

Era isso pessoal, aquele abraço!!! 

WILLIAM CASTRO ALVES