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Will Alves: Perspectivas do mercado americano, juros nos EUA e mais

Por William Castro Alves, estrategista da Avenue Securities

Tivemos uma semana bastante agitada e cheia de nuances no mercado. Entre altos e baixos, a bolsa americana deve fechar sem grandes oscilações ou uma tendência definida. Este semana se iniciou em compasso de espera de eventos específicos, a decisão de juros nos EUA e o comentário do presidente do FED, Jerome Powell, sobre a economia americana.

Powell não falou, recitou uma poesia ao mercado (aqui um resumo do seu comentário). Tanto é que após sua fala, na quarta-feira, os mercados atingiram novas máximas históricas.

Entretanto, o mercado é um agente bastante intenso, bipolar eu diria. No dia seguinte vimos os juros americanos longos de 10 anos saltarem. Isso trouxe para baixo as empresas de tecnologia – segmento esse que representa uma parcela bastante relevante da bolsa americana.

Não é só o Brasil

O Brasil vinha chamando atenção, mas agora temos o receio de uma terceira onda avançando sobre a Europa. Na última quinta-feira vimos a França anunciar o fechamento de Paris por receio da terceira onda de covid-19 no país. Mas se a França tem receio, por que os outros não teriam? Na sequência, vimos Alemanha falar em fechamento e a Itália também. Fora isso, na mesma semana diversos países informaram que pariam de usar a vacina da AstraZeneca por receios com efeitos colaterais.

Qual a leitura de mercado? Se a Europa enfrenta uma terceira onda e se reduz o seu já lento ritmo de vacinação (vide gráfico abaixo), o continente deve crescer menos e isso bate na perspectiva de crescimento do mundo em maior ou menor medida.

Fonte.

O impacto de um mundo que pode decepcionar em seu ritmo de abertura foi uma queda no preço de petróleo (cerca de 11% de queda das máximas do início do mês) e de outras commodities.

A foto não representa o filme?

A “foto” da semana não se mostrou positiva, mas o filme nos parece segue sendo positivo para o mercado americano. Veja que, na fala de Jerome Powell, ele atualizou as perspectivas de crescimento da economia americana, a qual espera-se que cresça 6.5% em 2021, 3.3% em 2022 e 2.2% em 2023.

Esse crescimento deveria levar os EUA a voltarem a situação de pleno emprego em 2023 com a taxa de desemprego saindo dos atuais 6.2% para 3.2% – resumo das projeções.

Lógico que estamos falando de projeções, as quais carregam um grande índice de incerteza. Mas o ponto é que os EUA vem vacinando sua população (cerca de 35%), os casos de hospitalizações e de mortes vem caindo vertiginosamente (vide gráficos abaixo) e, assim como comentei na semana passada, os americanos vivem um sentimento de reabertura.

Fonte 1 e Fonte 2.

Corroborando aos gráficos apresentados semana passada, vimos que a demanda e o número de passageiros voando nos EUA segue aumentando. Ainda longe dos níveis pré-pandemia, mas já avançando.

Fonte.

Tivemos na semana que passou o índice de atividade industrial do FED da Filadélfia, uma região tradicionalmente bastante industrializada e que fornece uma boa representação da atividade manufatureira dos EUA. O índice veio acima do esperado e atingindo máximas em anos.

Fonte.

Nessa semana os americanos começaram a receber os cheques de US$ 1400,00 de socorro a economia. E o que já vimos foi um impacto disso nos índices de confiança das pessoas na economia (vide gráfico abaixo). Todos os cinco indicadores medidos pela ESI aumentaram nas últimas duas semanas.

Fonte.

Mas e os yields?

A suíça, o Japão, a Dinamarca, por exemplo, crescem bem menos que os EUA, e por isso talvez faça sentido que a taxa de juros desses locais seja 0% ou mesmo negativas.

Já nos EUA, vivemos um momento de reabertura da economia com fortes perspectivas de crescimento e geração de emprego e renda. A taxa de inflação dos EUA dos últimos 12 meses foi de 1.7% (CPI). Os Fed Funds (a “Selic americana”) está em 0.25%, ou seja, temos aqui um juro real (descontado da inflação) negativo de 1.45%.

No entanto, considerando esse crescimento prospectivo, é normal supormos uma normalização de política monetária em algum momento. O que estamos vendo nos yields é o mercado antecipando, apenas isso. É normal que um país que cresça não trabalhe com taxas de juros reais negativas. Então se a inflação americana subir para 2% ou 3%, por conta em parte do crescimento, é normal que os yields subam…é até saudável que isso aconteça.

Agora se a economia cresce, as empresas tendem a vender mais e lucrar mais e isso é uma ótima notícia para quem investe em negócios. O trend secular de maior utilização da tecnologia em diferentes vertentes me parece que ainda tem muito espaço de crescimento. Logo entendo o momento como ímpar para quem quer investir nos EUA.