Empreendedores visionários, resilientes e obstinados por execução – fundadores à frente de empresas inovadoras, eficientes em capital e com modelos de negócio escaláveis. Para muitos, a combinação desses fatores seria suficiente para o sucesso de uma companhia. No ecossistema de inovação, no entanto, nem sempre é o bastante. Muitas vezes, um MBA internacional ou um unicórnio no currículo dos sócios acaba pesando mais na decisão de investimento em determinada startup. Transformar as regras desse jogo, que inevitavelmente acaba deixando muitos empreendedores excepcionais de fora, é o que quer o Cloud9 Capital, mais novo fundo brasileiro de venture capital.
Fundado em meados de 2021, o fundo chega agora ao mercado e toma como missão encontrar companhias em fase acelerada de crescimento, que prescindem da queima excessiva de capital e são lideradas por fundadores que ainda não entraram no radar tradicional de investimentos, mesmo estando à frente de startups promissoras.
“Nós buscamos empresas com produtos provados no mercado, tração relevante e um modelo escalável, mas cujos fundadores, por algum motivo, não tiveram acesso a cheques relevantes das gestoras tradicionais de venture capital”, pontua Felipe Affonso, sócio-fundador do Cloud9.
Para além de não terem um currículo ideal aos olhos dos VCs, estar localizado fora dos principais polos de inovação do país, deter uma base acionária sem a presença de nomes institucionais de peso ou com uma participação dos fundadores muito diluída são fatores que podem atrapalhar a jornada desses empreendedores.
“Claro que valorizamos tudo isso, mas nós queremos ativamente olhar para além desse universo: pescar também em alto-mar enquanto muitos simplesmente direcionam o seu olhar para dentro do aquário. Quando falamos de tecnologia, observamos um perfil ainda muito pouco diverso entre os empreendedores. Existe uma lacuna a ser preenchida e é exatamente aí que queremos atuar. Fundadores que montaram um negócio de sucesso com pouco recurso deveriam ser valorizados e não penalizados quando precisam levantar uma rodada”, completa.
Além de Felipe, à frente do Cloud9 está Noah Stern. Juntos, eles integraram a primeira equipe do Softbank no Brasil. Filho de empreendedores, Felipe se formou em Administração pelo Insper e tem mais de 10 anos de experiência em private equity e venture capital, com passagens pela GP Investimentos e pelo GIC, fundo soberano de Singapura. Formada em Administração pela FGV, Noah passou a maior parte de sua carreira na Goldman Sachs – no Brasil e posteriormente em Nova York, em um grupo focado em tecnologia. Para compor a equipe de sócios do fundo, a dupla convidou ainda Rafael Serson, economista do Insper que integrou a área de private equity da Kinea.
Apesar de se proporem agnósticos quanto aos setores em que buscam investir, a equipe do fundo tem preferência por startups voltadas aos mercados de saúde, educação e consumo, e que adotem SaaS (software as a service) como modelo de negócio.
Encontrar empresas que atendam à tese de investimento do fundo, sem dúvida, está entre os maiores desafios da equipe do Cloud9. Buscas ativas fazem parte do dia a dia. “Fazemos uma pesquisa detalhada por startups nos setores que mais nos interessam e também buscamos startups no Brasil com modelos de negócios similares a outros que já deram muito certo no exterior. Vale dizer, no entanto, que as melhores indicações chegam via nossa rede de contatos”, afirma Noah Stern.


Em geral, são executivos, C-Levels, investidores, fundadores e até mesmo gestores de VCs mais tradicionais. “Atuamos de forma bem complementar aos VCs tradicionais e temos uma boa relação com o ecossistema. Estamos recebendo e enviando recomendações de empreendedores para conectá-los com os fundos que tenham maior fit com seus momentos”, completa Felipe.
Apesar de buscar fundadores com perfis mais diversos, o Cloud9 também adota alguns critérios já estabelecidos no universo de inovação. Capacidade de execução dos empreendedores, qualidade do time, tamanho do mercado para o qual a startup se volta, potenciais de escala e de competição frente aos pares e, ainda, eficiência financeira, são fatores valorizados pelos gestores.
O primeiro closing do fundo inaugural do Cloud9 foi concluído recentemente, com cerca de R$ 280 milhões captados – a maior parte de investidores institucionais, single e multi family offices. O fechamento definitivo deve ocorrer em torno de 6 meses e a meta é alcançar a marca de R$ 400 milhões. O primeiro investimento será anunciado nas próximas semanas e o plano é apostar em cerca de 10 startups ao longo dos próximos três anos. Os cheques devem variar de acordo com as necessidades da investida, sendo o sweet spot a partir de R$ 20 milhões, mas com flexibilidade para aumentos relevantes.
Os sócios chamam atenção ainda para a concentração do portfólio. Além de garantir um apoio financeiro mais vultoso se necessário, a decisão por investir em um número reduzido de startups se dá também pela atenção que pretendem dedicar a cada uma dessas jovens empresas.
“Não queremos interferir no dia a dia desses negócios, mas ao liderar essas rodadas, nos posicionamos como o principal parceiro desses empreendedores. A ideia é empoderá-los, inseri-los na rota de investimentos, levando-os do mid ao late stage. Para isso, colocamos à sua disposição toda a nossa expertise com empresas de rápido crescimento, buscando contribuir nas questões estratégicas e operacionais importantes para a evolução da companhia”, afirma Noah.
O apoio para captações de recursos posteriores, a reestruturação de bases acionárias complexas, a organização para eventuais M&As e a contratação de talentos são algumas das tarefas que devem ganhar cada vez mais espaço na rotina dos investidores a cada parceria estabelecida.