O investidor não se deve levar pela narrativa de que “a bolsa americana está nas máximas e não tem mais oportunidade lá”
Por William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities
Nesta semana, o mercado e o mundo pararam para observar e analisar o indicador de inflação americana (Consumer Price Index – CPI), divulgado na quinta-feira. Entenda: a inflação dita americana não se restringe apenas aos Estados Unidos, uma vez que é repassada ao mundo todo por meio do dólar ou mesmo dos produtos americanos transacionados com outros países. Se o iPhone fica mais caro nos EUA, ficará no resto do planeta, não é mesmo?
Pois bem. De fato a inflação mais uma vez surpreendeu positivamente. Veio acima do esperado e no patamar mais alto desde 2008, alcançando os 5% (linha azul do gráfico abaixo).
QUAL O IMPACTO NO MERCADO?
Seria normal supor uma elevação das curvas de juros nos EUA, algo que afetaria especialmente as ações de tecnologia e, dado o maior peso destas no S&P, poderia puxar o índice para baixo.
Mas o efeito foi exatamente o oposto, com a curva de juros cedendo (gráfico da treasury de 10 anos na semana) …
… As ações de tecnologia performando bem e levando o S&P a mais um all time high (atingir uma nova máxima histórica) – abaixo o gráfico do S&P 500 (linha preta) na semana, com o XLK (ETF de tecnologia) na linha azul.


QUAL O MOTIVO DE O MERCADO TER IGNORADO A INFLAÇÃO?
Entender o mercado no curtíssimo prazo é sempre complexo e nem sempre o melhor exercício analítico a ser feito. Ainda assim, fazendo uma leitura, o que acontece é que o mercado vê a inflação como transitória – exatamente como comentei na semana passada. O gráfico abaixo, de Patrick Zweifel, economista-chefe da Pictet Asset Management, traz um insight interessante. Separa aquilo que tende a ser passageiro no CPI. Segundo ele, expurgando efeitos considerados passageiros (barra vermelha) e o efeito base (inflação anterior repassada aos preços atuais), o núcleo do índice estaria em 1.6%, e a inflação como um todo, mais comportada.
Outra dúvida do mercado é saber até que ponto a inflação atual, oriunda das commodities, é passageira ou não. Na dúvida, o que temos visto é o mercado reajustando expectativas. Se até dois meses atrás muitos davam como certo um aumento de juros em 2022, agora a certeza se desfez.
Sim, o mercado muda de opinião como quem muda de roupa. Por isso sempre ressaltamos aqui que o investidor não deve se mover por headlines de jornais ou notícias, e deve focar na análise dos ativos em que investe.
E NO MERCADO…
Seguimos vendo uma fraca performance das empresas mais conhecidas relativamente ao índice S&P, como nos trouxe a análise de Michael Kantrowitz, estrategista-chefe da Cornerstone Macro. O gráfico abaixo compara o desempenho de 20 ações de empresas que aparecem em diversas carteiras de diversos tipos de investidor – nomes bem conhecidos – relativamente ao índice, mostrando que as empresas mais conhecidas têm “ficado para trás”.
Qual é o insight aqui? Que o mercado americano é amplo e não se restringe aos maiores e mais conhecidos nomes do mercado.
Inclusive quando comparamos a inflexão de lucros das empresas menores (mid e small caps) vemos que essa foi maior.
E essa maior inflexão de lucros faz com que, apesar das altas da bolsa americana como um todo (falo do índice S&P 500), muitas empresas fora do índice não estejam nas máximas de seus múltiplos de Preço/Lucro, por exemplo. O gráfico abaixo compara o P/E (price/earnings) do S&P 500 com de empresas mid e small caps, as quais se mostram mais baratas negociando a cerca de 18x lucros.
O que estou querendo dizer é que existe vida além do S&P 500 e que o investidor não se deve levar pela narrativa de que “a bolsa americana está nas máximas e não tem mais oportunidade lá”. Esse é um tipo de análise rasa e superficial e que desconsidera uma regra de ouro na bolsa, que é: as ações se movimentam de acordo com seus lucros.
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Até semana que vem.
William Castro Alves