Você achou que só nós, no Brasil, estamos com problemas de energia com a nossa crise hídrica? Pois é, se enganou, meu bem… (já cantava o Erasmo Carlos…)
Por Jojo Wachsmann, sócio-fundador e CIO da Vitreo
A rotina de escrever o Diário de Bordo semanalmente é uma experiência e tanto.
O maior desafio é saber sobre o que escrever para depois ser criativo ao falar sobre o tema. E, nessa busca pelo assunto perfeito, que atraia a sua atenção, eu, vira e mexe, acabo esbarrando na procrastinação. Quando vou ver, já é quarta-feira à noite, e a página ainda está toda em branco!
Nas últimas edições, acabei abandonando um pouco do estilo storytelling (contação de histórias) para dar mais espaço ao mercado e tentar tornar mais palatável a travessia de um período de mais oscilação nos preços e resultados de seus investimentos.
Eu tento evitar só falar de crise e reverberar notícias ruins que você já deve receber por outros meios, mas tem vezes em que, confesso, fica difícil escapar. E esta semana parece ser mais uma dessas.
Ainda nem temos a resposta para a pergunta que levantei na semana passada, se a gigante Evergrande será ou não salva pelo governo chinês…
De lá para cá, a resposta parece ser sim, não e talvez. O governo diz que não vai ajudar, mas, enquanto a empresa tenta vender ativos para ir pagando seus compromissos de dívida, o próprio governo chinês injeta diariamente volumes expressivos de dinheiro na economia para manter a liquidez do mercado e minimamente garantir seu pleno funcionamento.
Enquanto esse imbróglio ainda causa repercussões, os mercados acionários seguem nervosos. As preocupações não são novas, mas as cores vão se acentuando.


O gráfico acima mostra os dias de alta (verde) e os de queda (vermelho) da Bolsa americana (S&P500). A queda da última terça (28) foi uma das piores do ano.
Deveríamos nos preocupar com a inflação que estamos vendo no mundo, em particular nos EUA? Essa parece ser a pergunta de trilhões de dólares.
O Fed, Banco Central americano, segue apostando na visão de que a alta dos preços é episódica, explicada pela demanda represada e pela interrupção nas cadeias de produção mundo afora causada pela pandemia.
Com a vacinação e gradual volta à normalidade, era de se esperar que tudo se ajustasse e que os preços voltassem, sem exigir uma atuação mais contundente da autoridade monetária americana.
Ontem (29), no encontro dos principais banco centrais do mundo (ECB europeu, Bank of Japan, Bank of England e o próprio Fed), a mensagem conjunta entre Powell e Lagarde foi nessa linha, de que a inflação é temporária.
Do outro lado da mesa, o mercado parece desconfiar dessa visão e segue medindo forças com o Fed a cada notícia nova.
A curva de juros americana subiu esta semana com os títulos curtos atingindo seu maior valor em 18 meses e o de 10 anos negociando acima de 1,5% (a “Selic” deles está ainda “zerada” desde o início da pandemia).
Parte da agitação desta semana vem da crise energética, que empurra para cima os preços globais de energia. O gás natural na Europa está parecendo bitcoin, com altas astronômicas nos últimos dois meses.
As energias renováveis, reféns da natureza, também estão sofrendo. Ventou pouco por lá, neste verão que termina. E, na prática, o mundo ainda depende dos combustíveis fósseis.
Não por acaso, o petróleo está em seu patamar mais alto dos últimos três anos. Esse movimento foi capturado por quem investiu no Vitreo Petróleo, que rendeu 16,5% desde seu início em 18/03/21 até 28/09, quase tudo só este mês. Veja só:


Energia nuclear também entrou na roda, mesmo com questionamentos da opinião pública. O urânio subiu ainda mais do que o petróleo nos últimos tempos. O Vitreo Urânio rendeu 39,8% desde seu início em 29/01/21 até 28/09, quase metade disso só este mês, como você pode ver no gráfico abaixo:


O Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, descreveu de forma muito lúcida a questão energética em um texto publicado esta semana no Brazil Journal. Leitura fundamental para entender o quadro atual e a questão da transição energética de forma simples.
Respeito muito a opinião dele. Eu e o Felipe tivemos a honra de tê-lo como convidado em nosso Radio Cash. Clique aqui para conferir o episódio.
Aqui na Vitreo, estamos de olho nisso. Lançamos, no mês passado, o Vitreo Energia Limpa, apostando justamente nessa transição da matriz energética, que já está em curso.
Lançamos também o Vitreo Hidrogênio, baseado em outra frente desse tema, as fuel cells de hidrogênio. Enquanto Elon Musk faz pouco caso delas, a China parece olhar com carinho para essa alternativa energética. Eu aprendi muito sobre isso com um colega em Stanford, 21 anos atrás. Na época, parecia uma conversa futurística, misturando Carl Sagan com os Jetsons. Mas parece que o futuro chegou!
Você achou que só nós, no Brasil, estamos com problemas de energia com a nossa crise hídrica? Pois é, se enganou, meu bem… (já cantava o Erasmo Carlos…)
Falando em crise hídrica, em meio aos temores de apagões e impactos no PIB, recebi um SMS da Enel (a companhia elétrica que atende a minha área residencial), dizendo: “Identificamos um aumento de consumo em sua conta atual e constatamos, após análise, que está correto”. Recebi isso como um puxão de orelhas! E encaminhei para a família toda. Junto com eles, na segunda-feira (27) comemoramos a festa judaica de Shemini Atzeret, que entre outras coisas, celebra o início da temporada de chuvas na região do Mediterrâneo. Rezei para que um pouquinho dessas chuvas também venha para cá!
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