Diretor da boutique RGS Partners lista obstáculos comuns nas transações e aponta caminhos que podem ajudar a concluir negócios e aquecer o mercado de M&A no país


Com um panorama favorável, o número de fusões e aquisições no Brasil vem crescendo de forma consistente nos últimos anos. Ao contrário do que muitos imaginam, no entanto, essas operações não estão restritas às grandes empresas, como aquelas listadas na Bolsa de Valores.
As transações também são cada vez mais recorrentes no chamado Middle Market. Muitas empresas de médio porte têm se tornado alvos de grupos maiores e de investidores, que pretendem ganhar novos mercados, produtos e sinergias.
Especialistas em M&A enxergam potencial para um crescimento ainda mais vigoroso no Middle Market nos próximos anos. Segundo eles, essa expansão passa pela conscientização dos donos das empresas de médio porte sobre a necessidade de realizarem, antes da eventual fase de diligência, um diagnóstico contábil, financeiro, tributário e trabalhista.
Essa análise prévia, avaliam os especialistas, tende a elevar de forma significativa as chances de sucesso de uma transação e de majoração do valor da companhia.
De olho neste potencial, a boutique a RGS Partners, que fechou 12 transações nos últimos 18 meses e tem mais de 150 processos de M&A realizados desde sua fundação, em 2013, estruturou uma área que busca justamente antecipar os problemas que podem ser enfrentados ao longo do processo de diligência.
Este serviço tem como objetivo uma apuração prévia das demonstrações financeiras e potenciais riscos para identificar o grau de preparação de uma empresa para um processo de fusão e aquisição ou captação de recursos.
“Empresas de médio porte, geralmente, não estão preparadas para um processo de compra e venda, pois não possuem informações financeiras de forma organizada, como requer todo o processo de fusão e aquisição, além da adequação à todas as normas contábeis e fiscais comuns a esses processos. Ou seja, ao contrário das grandes empresas, no Middle Market, o gerencial muitas vezes não bate com o contábil, há passivos que o dono da companhia desconhece, números que não são fidedignos com a realidade”, observa Flávio Lelis, responsável pela divisão de Transaction Services dentro da RGS Partners.
5 obstáculos dificultam transações
Lelis vê cinco obstáculos que com frequência costumam impedir a conclusão de transações durante a fase de diligências. Primeiramente, em sua opinião, o planejamento muitas vezes não é feito da forma mais adequada.
“A partir do momento em que o dono decide vender a empresa há uma ansiedade natural em concluir o negócio. Contudo, é preciso atenção para não queimar etapas. A decisão de venda não pode ser feita com a corda no pescoço, uma vez que as negociações tendem a se arrastar por meses e, às vezes, até por anos”, conta Lelis.
Um segundo ponto, na visão do diretor da RGS, é que o empresário naturalmente foca no crescimento do negócio e deixa a parte contábil e financeira em segundo plano. “As informações contábeis e financeiras são a base de uma negociação. Se estão incompletas ou mal organizadas, podem resultar no fim das negociações”, ressalta.
O terceiro ponto tem a ver com a ausência de conhecimento prévio das potenciais exposições tributárias e trabalhistas, que também ajudam a inviabilizar uma transação.
“As empresas familiares, comuns no Middle Market, não possuem a estrutura de “back-office” de grandes empresas adequadamente. Nem registram adequadamente todas as suas receitas e despesas e depois temem a profissionalização, sem saber que podem fazer a regularização paulatinamente”, diz.
O entendimento incorreto das métricas de EBITDA e Endividamento Líquido aparece como o quarto aspecto que Lelis considera capaz de gerar problemas nas negociações. “Até mesmo algumas empresas auditadas não compreendem o conceito”, aponta.
De acordo com Lelis, o quinto fator é consequência dos quatro anteriores na medida em que sua ocorrência, em menor ou maior grau ou a soma deles, contribui para a divergência de expectativa entre os vendedores e compradores sobre o valor do negócio.
“Embora haja um modelo quantitativo, o valuation envolve um julgamento subjetivo do empreendedor. Usar as métricas corretas e estar a par de todos os números da empresa traz confiabilidade, assegura uma expectativa real da companhia e aumenta as chances de sucesso da transação”, conclui o diretor da RGS Partners.